Segundo estimativa do Instituto Nacional do Câncer (INCA), cerca de 600 mil novos casos de câncer devem ser diagnosticados no Brasil somente em 2017. Esse diagnóstico traz aos pacientes muitas dúvidas em relação à doença, ao tratamento, as chances de cura. E, entre esses questionamentos há um grande tabu: Por que eu? No Dia Mundial do Câncer (04/02), psicóloga do Centro Oncológico Mogi das Cruzes, Valéria Rocha Macedo, desmistifica esse tabu.
De acordo com a psicóloga, apesar dos tratamentos mais avançados e dos crescentes índices de cura, o diagnóstico do câncer ainda é tratado pela população como uma sentença de morte.
“Nós, seres humanos, não temos ciência da nossa finitude. Não gostamos de pensar e nem de falar sobre a morte. E, quando a pessoa é diagnosticada com câncer ela passa a ter a ciência dessa fragilidade humana e já acha que vai morrer. Então, começa a questionar ‘por que eu’, ‘o que fiz para merecer isso’ e também a analisar a vida, onde errou e acertou”.
A psicóloga explica que neste caso, ela sempre questiona o paciente se ele encontrou uma resposta para suas dúvidas. “Geralmente sempre dizem que não e eu explico que não encontraram porque não há uma resposta. Muitos fatores podem causar o câncer. Mas, é importante evitarmos nos pacientes sentimentos muito comuns, como a raiva e a revolta. Aos poucos vamos desmistificando esse tabu e fazendo a pessoa refletir que o diagnóstico não vem só com o sofrimento. Ele pode vir para ajudar em uma mudança comportamental da pessoa. Geralmente vem para fazer o paciente romper com o que não faz feliz e bem. Pode ser um relacionamento afetivo ou de trabalho, uma mágoa de anos que ele ainda a mantém como se fosse recente e outras situações que fazem com que ele sofra. Com isso, acaba tendo um desgaste físico e mental, o que ajuda a provocar inúmeras doenças”.
Valéria, que atende os pacientes que estão em tratamento no Centro Oncológico Mogi das Cruzes, destaca a importância do acompanhamento psicológico realizado de forma conjunta ao tratamento da doença. Além da participação efetiva da família.
“O câncer é uma doença biológica, mas tem muitas vezes pode ter um componente psicossomático. Queremos evitar que a pessoa fique sofrendo e guardando esse sofrimento. E o apoio da família é fundamental porque às vezes o paciente precisa deste apoio para continuar”, comenta. “Além de acabar com os tabus, a principal mensagem que passamos é: Não fique sofrendo e não pare sua vida. Faça o tratamento, é muito importante, mas sigas seus projetos porque você está vivo. Aproveite”, finaliza.